"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

domingo, 5 de junho de 2011

Folha Amassada


Não se importa muito em ser sozinha. Não faz tanta diferença não ter ninguém pra ligar de madrugada, ninguém para ouvir suas piadinhas sem graça, ninguém para atravessar a cidade por ela. Não lhe parece tão difícil. Sempre foi assim. 

O pijama já virou roupa de semana, e isso não nega que não espera nem pelo entregador de pizza. Se enterra no sofá e se cobre até a nuca com o cobertor azul piscina. Já viu pela tevê um programa de culinária, um jogo de futebol de um time europeu, a novela das seis e um documentário sobre a Amazônia.

É tarde, e nem lembra se viu o sol naquele dia. Pensa em ler alguma coisa, mas se cansou tanto de não fazer nada que prefere ir para cama. Parece frágil e imprestável como uma folha amassada. Julgam-lhe ingênua, que não conhece as dores da vida.

Sempre seguiu bem assim, e seus poucos sorrisos foram auto-suficientes para lhe manter feliz. Apesar de poucos saberem, ela tropeçou e caiu incontáveis vezes, mas seu coração teimou em continuar batendo, mesmo que um tanto ralado. Não esperou muito, na verdade não esperou. Tudo que lhe veio foi lucro.

Ela não tem ninguém do seu lado. Sempre que precisou fazer, superar, batalhar, ela o fez sozinha. É forte na sua solidão. Ainda traz a esperança, que muitos já perderam. Continua andando. Caminha devagar, mas não para. Pois afinal, quem sabe onde termina a estrada? 

(Texto para o 1º Concurso ABL)

2 comentários:

  1. Me identifiquei muito com seu post.
    Parece eu escrevi. Parabéns.

    Bjo ;)

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  2. Adorei o texto, muito bem escrito!

    http://aboutthevioletsea.blogspot.com/

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