"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Passado do Meu Verbo Ser


Nunca quebrei nenhum osso, e nem nunca fiz pontos. Nada de extraordinário, mas era algo que na infância me orgulhava. Eu era uma criança normal. Subia em pé de bergamota, andava de bicicleta Caloi vermelha, de assento de plástico e corria de pés descalços a tarde toda. Minha maior preocupação era não perder Chiquititas e eu odiava ganhar roupas de presente de aniversário. Por falar em aniversário, essa era a data mais esperada do ano, pelo menos pra mim, pois era dia de estrear a sandália nova e tirar algumas fotos. Isso ainda era incomum, só em datas especiais, e era chato pra caramba esperar até que elas fossem reveladas.
Tinha corte chanel, porque minha mãe gostava. Ela prendia minha franja para trás e fazia uma montanhazinha com o cabelo, também porque gostava. Não me importava muito, não tinha tempo pra isso. Minha vida era agitada, entre ir para a escola, brincar com os amigos, e assistir Castelo Rá-tim-bum.
Queria ser veterinária, mas mudei de ideia mil vezes desde lá, e pra ser bem sincera, ainda nem decidi o que fazer da vida.
 Eu tinha uma melhor amiga, um cachorro imaginário e um real, um irmão mais velho e um tazo do Bob Esponja.
Briguei uma vez com o meu melhor vizinho, não lembro o motivo, mas acredito que foi grave o bastante para que ele merecesse uma boa mordida no braço. Mas mal a marca dos meus dentes havia saído da sua pele, já estávamos rindo e brincando outra vez.
            Minha infância foi doce, e hoje não me conformo com a pressa que tinha, de fazer 10, 12, 15 anos. Mas foi bem vivida, e hoje é o reflexo da minha personalidade. Durante todos aqueles anos fui carregando um caderno de anotações, para anotar as lições que a vida me dava. E foi até alcançar 1 metro e 50 cm de altura que aprendi as coisas mais relevantes da vida, como perdoar, amar, cuidar e ser feliz. A partir daí, até os 20 centímetros restantes, chegando ao meu 1 metro e 70 cm de hoje, comecei a ver as coisas diferentes, com olhos adolescentes, deixando em um passado não muito distante, a menina de chanel e com franja pra trás, com um ar fresco de manhã.
Transformei-me em garota, que hoje enfrenta problemas muito maiores do que ter perdido o programa favorito na tevê. Tenho meus medos e fraquezas, mas nunca, nunca mesmo, quebrei algum osso ou fiz pontos, e olha que eu acelerava bastante com a minha Caloi.
(Texto para "Concurso de Textos/Junto&Misturado", com o tema: Infância

2 comentários:

  1. Caramba suas palavras me coloca no seu tempo. Me identifique muito. Parabéns!

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  2. nossa fiz uma viajem ao passado e adorei. Tb nunca quebrei um osso e tive uma adolescência bem tranquila. Mas agora confesso que quero estravasar, rsrs. Estou te seguindo, passa lá no meu.
    http://lojadabelezanegra.blogspot.com

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