"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aparentemente

Tá tudo bem. Eu ainda acordo as sete, passeio com o cachorro e vou ao mercado na terça. Ainda arrumo a cama toda manhã, saio no sábado e assisto filmes no domingo. Faço minha unha, leio o jornal e como uma maçã a noite. Aparentemente continua tudo no lugar, mas olhe bem, disse aparentemente. 

A rotina vai andando, e enquanto me sobra um tempo, a ele sobra liberdade. Seus melhores sorrisos são minhas maiores dores. Vive agora o que sempre cobiçou: o bom emprego, o bom carro e a nova e boa namorada. Facilmente fiquei no seu passado, como algo inteiramente passageiro, sem muito significado. Mas comigo não foi o mesmo, travei na melhor parte, e não avancei até o fim. 

O que devo fazer se estiver sufocando e você estiver feliz? As coisas não acontecem por acaso, mas ainda não me convenci que isso devia acontecer. Tudo andava bem e agora não sei qual é minha direção. Apagaram-se os caminhos e estou só. Mas isso também passará. Amanhã de manhã o sol virá, pra clarear meus caminhos e me fazer companhia. Então, tá tudo bem. Aparentemente.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Era falta, se queria saber

Amanhã faria duas semanas que eu estaria com a mente totalmente livre de você. Nesses últimos dias procurei não pensar por onde andava ou com quem conversava. Deixei que hibernasse a minha saudade, e andei vazia por aí. Não posso dizer que foi agradável, mas me consola que meu coração bateu mais tranquilo e confortável, acreditou quando eu disse para mim mesma que estava tudo bem.

Permanecia confiante, até tropeçar no emaranhado de medos que preferi deixar de lado, mas que, mais cedo do que tarde, já vieram a me incomodar. Inevitável recaída. E agora, ando pensando muito mais do que devia, nos lugares que frequenta, nas garotas a quem dá seu telefone, nas festas que não perde. Mas eu sei; isso tudo não irá além de uns goles a mais de bebida, e de uma ou duas que levará para sua casa, mas não para sua vida.

Bem te conheço. Incha o peito e estampa um sorriso no rosto quando algo por dentro te corrói. É a tua face do orgulho. Não me engana. Parece tão aberto e sociável, mas é apenas superficialmente. Possui a consciência astuta o bastante para saber com quem dividirá um apartamento ou um cobertor por mais de um dia, e isso me tranquiliza um pouco. Você, ao contrário de mim, consegue ver além de segundas, terceiras ou trigésimas intenções, não se machuca tão fácil. E quanto a mim, sempre me avisou da minha ingenuidade... Mas eu tenho tomado cuidado, juro.

O que eu sinto é simples, é falta. E um pouco de inveja... Vergonhoso, mas admito. Porque por mais que você talvez sinta alguma saudade minha, e apenas ostente a imagem de um cara feliz, desencanado e pra frente, isso realmente te faz mover nessa direção. Você sabe lidar melhor com o “ser sozinho”. E eu, que quase morro de tanta falta, nem me movo nessa areia movediça... Era isso, se queria saber.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Passado do Meu Verbo Ser


Nunca quebrei nenhum osso, e nem nunca fiz pontos. Nada de extraordinário, mas era algo que na infância me orgulhava. Eu era uma criança normal. Subia em pé de bergamota, andava de bicicleta Caloi vermelha, de assento de plástico e corria de pés descalços a tarde toda. Minha maior preocupação era não perder Chiquititas e eu odiava ganhar roupas de presente de aniversário. Por falar em aniversário, essa era a data mais esperada do ano, pelo menos pra mim, pois era dia de estrear a sandália nova e tirar algumas fotos. Isso ainda era incomum, só em datas especiais, e era chato pra caramba esperar até que elas fossem reveladas.
Tinha corte chanel, porque minha mãe gostava. Ela prendia minha franja para trás e fazia uma montanhazinha com o cabelo, também porque gostava. Não me importava muito, não tinha tempo pra isso. Minha vida era agitada, entre ir para a escola, brincar com os amigos, e assistir Castelo Rá-tim-bum.
Queria ser veterinária, mas mudei de ideia mil vezes desde lá, e pra ser bem sincera, ainda nem decidi o que fazer da vida.
 Eu tinha uma melhor amiga, um cachorro imaginário e um real, um irmão mais velho e um tazo do Bob Esponja.
Briguei uma vez com o meu melhor vizinho, não lembro o motivo, mas acredito que foi grave o bastante para que ele merecesse uma boa mordida no braço. Mas mal a marca dos meus dentes havia saído da sua pele, já estávamos rindo e brincando outra vez.
            Minha infância foi doce, e hoje não me conformo com a pressa que tinha, de fazer 10, 12, 15 anos. Mas foi bem vivida, e hoje é o reflexo da minha personalidade. Durante todos aqueles anos fui carregando um caderno de anotações, para anotar as lições que a vida me dava. E foi até alcançar 1 metro e 50 cm de altura que aprendi as coisas mais relevantes da vida, como perdoar, amar, cuidar e ser feliz. A partir daí, até os 20 centímetros restantes, chegando ao meu 1 metro e 70 cm de hoje, comecei a ver as coisas diferentes, com olhos adolescentes, deixando em um passado não muito distante, a menina de chanel e com franja pra trás, com um ar fresco de manhã.
Transformei-me em garota, que hoje enfrenta problemas muito maiores do que ter perdido o programa favorito na tevê. Tenho meus medos e fraquezas, mas nunca, nunca mesmo, quebrei algum osso ou fiz pontos, e olha que eu acelerava bastante com a minha Caloi.
(Texto para "Concurso de Textos/Junto&Misturado", com o tema: Infância

Ventos do Tempo

Eu mudei um pouco, admito. Mas é isso que o tempo faz com a gente. Minhas vontades mudaram, e ando mais despreocupada.  Se estou melhor agora? Não sei, mas é um novo estado de espírito. Estou me modelando para as mudanças que hão de vir. Perdi um pouco do equilíbrio que não abria mão, e pra ser sincera, esse fato não me fez bem. Talvez porque eu não consiga admitir fraquezas. Mas espero aprender com isso e também com o tempo, que mostra que a vida não é, e nem nunca será somente chocolate ao leite, e que os momentos com gosto de limão azedo virão, mas também passarão.
Então é melhor esperar. Respostas, caminhos, mudanças. Vive-se mais tranquilo quando não há planos pro amanhã, porque aí a frustração não tem lugar, e o que vier é lucro.
É, mudei alguns conceitos. Realizei algumas alterações no modo padrão de como eu via a vida, por esse lado, as coisas andam mais fáceis. Ando mais desapegada, das coisas, das pessoas. E quando chegar o tempo de partir, vou livre, e vazia de qualquer peso do passado, pronta pra um novo começo. Papel limpo e sem rabisco.
Por isso tento me manter solta, leve, como uma folha seca. Pois ao primeiro vento forte que bater, me deixarei levar, sem medo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Razões

As pessoas precisam de coisas que as movam, em outras palavras, de razões. Precisam de olhos que admirem a roupa nova, precisam de risos que provoquem outras piadas, precisam de ouvidos que ouçam suas histórias, importantes ou fúteis. Ninguém vive bem no vazio.
O vazio é pesado, e ocupa todos os espaços que pode, se lhe for permitido.  A rotina atropela, cansa e tortura, simplesmente pelo fato que nada ou ninguém te espera no fim do dia. Então você se amola. Não se importa que as horas passem. Acalma o passo, sem pressa de chegar em casa. Nem pensa no que fazer pro jantar, já que é só pra um. Come qualquer coisa. Assiste ao filme que passa depois da novela, mas não aguenta os olhos abertos até o fim. A história era sem graça, comédia romântica, e além do mais você está cheio desses finais felizes que sabe que só existem em filmes. O real é tão pesado quanto o vazio.
Amanhece. Fecha a porta. Guarda a chave no bolso. Caminha com um pouco de pressa. Está atrasado para o trabalho e para um hoje melhor, que anseia encontrar. Afinal, você precisa ser feliz, e isso é pra ontem.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Não faço questão...


Não faço questão de participar da sua rotina daqui pra frente. Não vou me importar em não mais opinar em seu corte de cabelo. Abro mão dos cartões de natal e de cartas informais me pedindo como anda a vida. Vou entender se minha presença se tornar importuna, e se for melhor voltar mais tarde, ou nem voltar. Não precisa se incomodar em ligar no meu aniversário, sério.
 Não faço questão de que se lembre do meu sorriso, enquanto outro alguém lhe sorri. Você não precisa fingir sentir muito, por eu permanecer sozinha e não encontrar ninguém com o mesmo gênio difícil... Na verdade difícil mesmo é encontrar alguém como você...
Eu entendo... E entenderei quando nossas lembranças não importarem mais tanto, quando sorvete de morango não significar nada mais do que um doce gelado, quando você resolver fazer uma faxina no seu armário, e decidir se desfazer das inutilidades que um dia nos fizeram rir, e jurar pra sempre guardar. Mas essa foi só mais uma promessa que se desmanchou com peso do tempo. Não se sinta culpado. É natural.
Eu abro mão de que me ligue de vez em quando, e tudo bem se seu coração não aquecer mais quando vir meu nome na lista telefônica. Não faço questão de lhe causar saudade alguma. No entanto, quando lhe pedirem sobre o amor, lembre somente do que eu carregava no peito, aquilo pra mim, era amor.