"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vá andando. Olhe pros lados, mas nunca para trás. Pise passos firmes, de preferência ao alcance das pernas. 
Saia pelo menos uma manhã com o rosto limpo, livre do sorriso postiço. Sorria por natureza, por instinto. A felicidade não é um objeto perdido que necessita ser encontrado; ela é um estado de espírito, e por que não uma forma de viver? É você que alimenta pensamentos, bons e ruins. Já pensou em deixar morrer de fome o ódio e o pessimismo? Olhe para frente, cresça e ajude os outros a crescer. O mundo é dos fortes, e daqueles que acreditam. Ouça mais, fale menos. Quebre a cara, porque você está longe de ser perfeito. Não ignore os erros, construa valores através deles. Dê sua cara pra bater, e não deixe que os outros decidam por você. Faça, pelo menos, alguma pequena diferença. O comum é mais fácil, mas também não agrada. Seja você, procurando sempre ser alguém melhor. E tenha cuidado com os conselhos que irá seguir, inclusive com os meus.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Era linda a flor...

No final seria assim mesmo, só que menos doloroso. Não haveria rasgos nem corações partidos, só um pouco de saudade antecipada e lágrimas de nostalgia nos olhos. Mas já que não pode ser assim, me deixe ao menos lamentar, e recolher algumas pétalas da nossa flor esfacelada, pra guardar pra lembrança...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Interrogação

Ainda carrego dúvidas demais pra ter qualquer certeza, além da que eu já tenho: Que não possuo resposta alguma. Sou como uma interrogação de má caligrafia. Faço parte das questões até hoje não respondidas com total certeza, nem pela ciência, nem pela religião, assim como se somos ou não tatara-tatara-tatara...netos dos macacos. Mas também pouco me importa se meus antepassados mais remotos viviam em árvores catando piolho um no outro. O que importa agora é me desfazer desse sinal angustiante de pontuação.

Ficaria satisfeita com pelo menos algumas das respostas, só as mais urgentes, pra desenrolar o começo do caminho. E depois conto com a Nossa Senhora Desatadora de Nós pra dar uma mãozinha, ou as duas.  

Não deve ser tão difícil. Oração ou simpatia deve ajudar. Ou talvez você, coração... Que tal se manifestar? Pode falar... A palavra agora é sua.  

sábado, 25 de junho de 2011

"Your Body is a Wonderland"

Ele adormeceu no meu sofá rasgado enquanto assistia a um jogo de tênis, no canal dois. Dormia um sono de fundo de poço. Seria desperdício acordá-lo, sem antes admirar suas feições fortemente marcadas, no rosto de homem-guri. O respirar era suave, e fazia meu peito inspirar e expirar, inspirar e expirar ao mesmo ritmo. Os cílios superiores repousavam delicadamente nos inferiores, enquanto os lábios, macios e quentes, roçavam ou no outro de vez em quando. Os fios de cabelo, excessivamente jogados a testa, e um tanto bagunçados, estavam exatamente de acordo com o que vestia: calças largas e camisa do mercadinho da esquina.

Era como um ponto de atração, e eu sentia como se toda a gravidade do centro da Terra tivesse se transferido para seu corpo. Percebi, naquela hora, que já não andava com o coração às mãos. Havia o perdido, sem me dar em conta, sem ele haver deixado pistas, porém desconfiava do seu rumo...

Já havia dado o primeiro passo no escuro, só me restava então, seguir às cegas, por um caminho que me parecia certo. Segui em direção dos seus braços, que ao me envolver, me juravam em silêncio, cuidar bem de mim, e do meu coração, onde quer que ele estivesse.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Descompasso


Vai caminhando sob a faixa amarela, no meio da rua vazia. Olha o céu e não consegue ver as estrelas. Respira fundo o ar gelado da noite de inverno, esperando que talvez ele possa congelar reminiscências indesejáveis. Seu pensamento indomável foge do seu alcance. É algo maior, vai muito além de um metro e setenta.

É como se houvesse um lugar no seu coração que entorpeceu, e que foi reservado para doer de vez em quando. E não é qualquer anador que resolverá o problema. Uma dose de tempo, talvez. Na verdade, mais uma.

Já não acredita em cura. Acredita que acostuma. De certa forma, aprendeu a lidar com os descompassos do coração, que mais uma vez, perdeu o ritmo no meio da dança, pois há tempos essa música não lhe agrada.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Últimos Planos


Recolhem os pratos, com que alimentaram seus últimos planos juntos. Decidiram que seguiriam seus caminhos, mas não mais lado a lado. Dividiram os discos, os livros e as canecas de chá. Ela ficou com a estante e ele fez questão de levar o sofá. Desfizeram-se dos presentes e da aliança de compromisso que agora não era nada além de um elo de metal.

Não acharam certo que algo que os havia feito tão feliz, acabasse com tristeza. Então, ele forçou um sorriso, que fez sustentar o seu olhar calmo. A sua mão tocou o trinco gelado ao mesmo tempo em que ela o abraçou com seu moletom um tanto grande, mas que a deixava com um ar de menina do colégio.

Ele foi e a recomendou que não andasse sozinha à noite. Ela fechou a porta, tentando buscar em si qualquer resquício de felicidade, alguma faísca daquilo que a fazia sorrir. Colocou um prato solitário na mesa, pois era hora de alimentar novos sonhos e planos, e agora, fazia aquilo por si só.

domingo, 5 de junho de 2011

Folha Amassada


Não se importa muito em ser sozinha. Não faz tanta diferença não ter ninguém pra ligar de madrugada, ninguém para ouvir suas piadinhas sem graça, ninguém para atravessar a cidade por ela. Não lhe parece tão difícil. Sempre foi assim. 

O pijama já virou roupa de semana, e isso não nega que não espera nem pelo entregador de pizza. Se enterra no sofá e se cobre até a nuca com o cobertor azul piscina. Já viu pela tevê um programa de culinária, um jogo de futebol de um time europeu, a novela das seis e um documentário sobre a Amazônia.

É tarde, e nem lembra se viu o sol naquele dia. Pensa em ler alguma coisa, mas se cansou tanto de não fazer nada que prefere ir para cama. Parece frágil e imprestável como uma folha amassada. Julgam-lhe ingênua, que não conhece as dores da vida.

Sempre seguiu bem assim, e seus poucos sorrisos foram auto-suficientes para lhe manter feliz. Apesar de poucos saberem, ela tropeçou e caiu incontáveis vezes, mas seu coração teimou em continuar batendo, mesmo que um tanto ralado. Não esperou muito, na verdade não esperou. Tudo que lhe veio foi lucro.

Ela não tem ninguém do seu lado. Sempre que precisou fazer, superar, batalhar, ela o fez sozinha. É forte na sua solidão. Ainda traz a esperança, que muitos já perderam. Continua andando. Caminha devagar, mas não para. Pois afinal, quem sabe onde termina a estrada? 

(Texto para o 1º Concurso ABL)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aparentemente

Tá tudo bem. Eu ainda acordo as sete, passeio com o cachorro e vou ao mercado na terça. Ainda arrumo a cama toda manhã, saio no sábado e assisto filmes no domingo. Faço minha unha, leio o jornal e como uma maçã a noite. Aparentemente continua tudo no lugar, mas olhe bem, disse aparentemente. 

A rotina vai andando, e enquanto me sobra um tempo, a ele sobra liberdade. Seus melhores sorrisos são minhas maiores dores. Vive agora o que sempre cobiçou: o bom emprego, o bom carro e a nova e boa namorada. Facilmente fiquei no seu passado, como algo inteiramente passageiro, sem muito significado. Mas comigo não foi o mesmo, travei na melhor parte, e não avancei até o fim. 

O que devo fazer se estiver sufocando e você estiver feliz? As coisas não acontecem por acaso, mas ainda não me convenci que isso devia acontecer. Tudo andava bem e agora não sei qual é minha direção. Apagaram-se os caminhos e estou só. Mas isso também passará. Amanhã de manhã o sol virá, pra clarear meus caminhos e me fazer companhia. Então, tá tudo bem. Aparentemente.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Era falta, se queria saber

Amanhã faria duas semanas que eu estaria com a mente totalmente livre de você. Nesses últimos dias procurei não pensar por onde andava ou com quem conversava. Deixei que hibernasse a minha saudade, e andei vazia por aí. Não posso dizer que foi agradável, mas me consola que meu coração bateu mais tranquilo e confortável, acreditou quando eu disse para mim mesma que estava tudo bem.

Permanecia confiante, até tropeçar no emaranhado de medos que preferi deixar de lado, mas que, mais cedo do que tarde, já vieram a me incomodar. Inevitável recaída. E agora, ando pensando muito mais do que devia, nos lugares que frequenta, nas garotas a quem dá seu telefone, nas festas que não perde. Mas eu sei; isso tudo não irá além de uns goles a mais de bebida, e de uma ou duas que levará para sua casa, mas não para sua vida.

Bem te conheço. Incha o peito e estampa um sorriso no rosto quando algo por dentro te corrói. É a tua face do orgulho. Não me engana. Parece tão aberto e sociável, mas é apenas superficialmente. Possui a consciência astuta o bastante para saber com quem dividirá um apartamento ou um cobertor por mais de um dia, e isso me tranquiliza um pouco. Você, ao contrário de mim, consegue ver além de segundas, terceiras ou trigésimas intenções, não se machuca tão fácil. E quanto a mim, sempre me avisou da minha ingenuidade... Mas eu tenho tomado cuidado, juro.

O que eu sinto é simples, é falta. E um pouco de inveja... Vergonhoso, mas admito. Porque por mais que você talvez sinta alguma saudade minha, e apenas ostente a imagem de um cara feliz, desencanado e pra frente, isso realmente te faz mover nessa direção. Você sabe lidar melhor com o “ser sozinho”. E eu, que quase morro de tanta falta, nem me movo nessa areia movediça... Era isso, se queria saber.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Passado do Meu Verbo Ser


Nunca quebrei nenhum osso, e nem nunca fiz pontos. Nada de extraordinário, mas era algo que na infância me orgulhava. Eu era uma criança normal. Subia em pé de bergamota, andava de bicicleta Caloi vermelha, de assento de plástico e corria de pés descalços a tarde toda. Minha maior preocupação era não perder Chiquititas e eu odiava ganhar roupas de presente de aniversário. Por falar em aniversário, essa era a data mais esperada do ano, pelo menos pra mim, pois era dia de estrear a sandália nova e tirar algumas fotos. Isso ainda era incomum, só em datas especiais, e era chato pra caramba esperar até que elas fossem reveladas.
Tinha corte chanel, porque minha mãe gostava. Ela prendia minha franja para trás e fazia uma montanhazinha com o cabelo, também porque gostava. Não me importava muito, não tinha tempo pra isso. Minha vida era agitada, entre ir para a escola, brincar com os amigos, e assistir Castelo Rá-tim-bum.
Queria ser veterinária, mas mudei de ideia mil vezes desde lá, e pra ser bem sincera, ainda nem decidi o que fazer da vida.
 Eu tinha uma melhor amiga, um cachorro imaginário e um real, um irmão mais velho e um tazo do Bob Esponja.
Briguei uma vez com o meu melhor vizinho, não lembro o motivo, mas acredito que foi grave o bastante para que ele merecesse uma boa mordida no braço. Mas mal a marca dos meus dentes havia saído da sua pele, já estávamos rindo e brincando outra vez.
            Minha infância foi doce, e hoje não me conformo com a pressa que tinha, de fazer 10, 12, 15 anos. Mas foi bem vivida, e hoje é o reflexo da minha personalidade. Durante todos aqueles anos fui carregando um caderno de anotações, para anotar as lições que a vida me dava. E foi até alcançar 1 metro e 50 cm de altura que aprendi as coisas mais relevantes da vida, como perdoar, amar, cuidar e ser feliz. A partir daí, até os 20 centímetros restantes, chegando ao meu 1 metro e 70 cm de hoje, comecei a ver as coisas diferentes, com olhos adolescentes, deixando em um passado não muito distante, a menina de chanel e com franja pra trás, com um ar fresco de manhã.
Transformei-me em garota, que hoje enfrenta problemas muito maiores do que ter perdido o programa favorito na tevê. Tenho meus medos e fraquezas, mas nunca, nunca mesmo, quebrei algum osso ou fiz pontos, e olha que eu acelerava bastante com a minha Caloi.
(Texto para "Concurso de Textos/Junto&Misturado", com o tema: Infância

Ventos do Tempo

Eu mudei um pouco, admito. Mas é isso que o tempo faz com a gente. Minhas vontades mudaram, e ando mais despreocupada.  Se estou melhor agora? Não sei, mas é um novo estado de espírito. Estou me modelando para as mudanças que hão de vir. Perdi um pouco do equilíbrio que não abria mão, e pra ser sincera, esse fato não me fez bem. Talvez porque eu não consiga admitir fraquezas. Mas espero aprender com isso e também com o tempo, que mostra que a vida não é, e nem nunca será somente chocolate ao leite, e que os momentos com gosto de limão azedo virão, mas também passarão.
Então é melhor esperar. Respostas, caminhos, mudanças. Vive-se mais tranquilo quando não há planos pro amanhã, porque aí a frustração não tem lugar, e o que vier é lucro.
É, mudei alguns conceitos. Realizei algumas alterações no modo padrão de como eu via a vida, por esse lado, as coisas andam mais fáceis. Ando mais desapegada, das coisas, das pessoas. E quando chegar o tempo de partir, vou livre, e vazia de qualquer peso do passado, pronta pra um novo começo. Papel limpo e sem rabisco.
Por isso tento me manter solta, leve, como uma folha seca. Pois ao primeiro vento forte que bater, me deixarei levar, sem medo.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Razões

As pessoas precisam de coisas que as movam, em outras palavras, de razões. Precisam de olhos que admirem a roupa nova, precisam de risos que provoquem outras piadas, precisam de ouvidos que ouçam suas histórias, importantes ou fúteis. Ninguém vive bem no vazio.
O vazio é pesado, e ocupa todos os espaços que pode, se lhe for permitido.  A rotina atropela, cansa e tortura, simplesmente pelo fato que nada ou ninguém te espera no fim do dia. Então você se amola. Não se importa que as horas passem. Acalma o passo, sem pressa de chegar em casa. Nem pensa no que fazer pro jantar, já que é só pra um. Come qualquer coisa. Assiste ao filme que passa depois da novela, mas não aguenta os olhos abertos até o fim. A história era sem graça, comédia romântica, e além do mais você está cheio desses finais felizes que sabe que só existem em filmes. O real é tão pesado quanto o vazio.
Amanhece. Fecha a porta. Guarda a chave no bolso. Caminha com um pouco de pressa. Está atrasado para o trabalho e para um hoje melhor, que anseia encontrar. Afinal, você precisa ser feliz, e isso é pra ontem.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Não faço questão...


Não faço questão de participar da sua rotina daqui pra frente. Não vou me importar em não mais opinar em seu corte de cabelo. Abro mão dos cartões de natal e de cartas informais me pedindo como anda a vida. Vou entender se minha presença se tornar importuna, e se for melhor voltar mais tarde, ou nem voltar. Não precisa se incomodar em ligar no meu aniversário, sério.
 Não faço questão de que se lembre do meu sorriso, enquanto outro alguém lhe sorri. Você não precisa fingir sentir muito, por eu permanecer sozinha e não encontrar ninguém com o mesmo gênio difícil... Na verdade difícil mesmo é encontrar alguém como você...
Eu entendo... E entenderei quando nossas lembranças não importarem mais tanto, quando sorvete de morango não significar nada mais do que um doce gelado, quando você resolver fazer uma faxina no seu armário, e decidir se desfazer das inutilidades que um dia nos fizeram rir, e jurar pra sempre guardar. Mas essa foi só mais uma promessa que se desmanchou com peso do tempo. Não se sinta culpado. É natural.
Eu abro mão de que me ligue de vez em quando, e tudo bem se seu coração não aquecer mais quando vir meu nome na lista telefônica. Não faço questão de lhe causar saudade alguma. No entanto, quando lhe pedirem sobre o amor, lembre somente do que eu carregava no peito, aquilo pra mim, era amor.

sábado, 30 de abril de 2011

Estou numa fase em que nada me parece bom e agradável o suficiente. Sempre fica aquele gostinho de que faltou alguma coisa pra ficar perfeito, tipo festa sem balão. Tudo bem, eu sei muito bem quando isso começou...
Começou quando ele estralava os dedos olhando pra janela, procurando fugir dali. Indecifrável. Mas o tal do sexto sentido, bem aguçado em mim, como até mesmo ele dizia, me deixava intuir em que esquina o seu eu havia adentrado, e a que decisões seu coração havia chegado. Esperei em silêncio, usando suas meias, agarrando os joelhos forte contra meu peito que sentia medo. Até que seus dedos não estralavam mais. Percebeu então que deveria dizer alguma coisa. Entretanto, ao invés disso, me olhou demoradamente e segurou minha mão. E os nós já se formavam na minha garganta... Segurou-me em seu colo por um segundo, e aquilo havia sido mais doloroso do que qualquer uma de nossas discussões, pois tinha cara de despedida.
Fez questão de dizer que nos veríamos por aí, antes de abrir a porta e um buraco dentro de mim. Deixou-me com uma saudade apertada e com a dúvida de o que vem depois, em cima da mesa de centro. E foi. Só.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Divina Comédia


Ao invés de ficar falando sobre como está quente ultimamente, e do quanto a cor do sofá não combina com a cor da parede, porque não fala de nós? Ou de você? Ou de qualquer coisa mais relevante do que seu time de futebol? Parece tão difícil assim?
Cansei que tentar preencher o silêncio toda hora, relatando meu dia e até repetindo as mesmas histórias. É aquela sensação de que você vive sozinho, mas com alguém do seu lado, sabe? Chega a ser triste, não saber o que se passa na mente da outra pessoa, se ela quer o mesmo que você, se ela vive o sentimento na mesma intensidade que você.
Até abre a boca, em intervalos quase programados, mas não pronuncia palavras com significativa importância, não deixando, portanto de ser silêncio. Um silêncio até mais incômodo que o de sempre.
Então permanecemos “calados”, e nos perdemos no cenário da sala quase vazia. Um abajur estampado, uma tevê, um rádio velho, você e eu. Elementos inanimados de uma peça em que o silêncio protagoniza todas as cenas. Não há nem variação de começo, meio ou fim, o enredo é imutável. E nem sabemos se estamos próximos, ou não, do último ato.

domingo, 24 de abril de 2011

Espera


As seis horas da tarde chegaram novamente, a sétima vez na semana. Algo muito provável, lógico, mas diferente nessas últimas vezes. Elas vieram completamente sozinhas, silenciosas e vazias. Sem nem um sorriso, uma flor, um riso. E esperei, ansiosamente a qualquer sinal, ao que a respiração cansada ofegava. E esperava. Acelerava o coração a cada mover do ponteiro do relógio. Em um total estado de espera. Uma angústia machucando, igual pedra no sapato. E que droga, como aperta! 
E não aparece. Nem sinal, nem ligação, nem pombo correio. E vai acumulando no peito todas essas esperas, chegando ao ponto em que vira rotina. Esperar. Manhã, tarde, noite. Amanhã, depois e depois de amanhã. Já perdeu a graça, e é quando penso em desistir que você pensa em ligar. Pra recomeçar... Mas só se for recomeçar a infindável espera.