"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

quarta-feira, 30 de março de 2011

E não adianta disfarçar...

E não adianta disfarçar, te dói por dentro, e nada muda isso. Incomodam-te mil coisas e você não admite nem a você mesmo. Você não quer acreditar nas possibilidades. Depois de tanto tempo, isso volta a acontecer, do jeito errado, pra confirmar a história de destino ou carma, que certa vez ouviu falar na tevê, mas achou que era bobagem, então começa a desconfiar que aquilo tudo tivesse mesmo sentido. Que droga. Você jurou não sei quantas vezes em nome dos dezessete meses em que seu coração mal bateu, que não aconteceria de novo. Você não suportaria. Agora, aperta os olhos forte pra afastar o medo da realidade, que já está a dois passos de você.
E você não suporta isso outra vez. Arruma as malas pra ir embora. Mas não se desprende do medo-do-amor-errado, que vai contigo. E machuca, pois vai acontecer, mais uma vez. E seu coração já anda desistindo, cansado, de bater em vão...

terça-feira, 29 de março de 2011

Quer saber de uma coisa?


Depois que me decepcionar, sério, não me procura. Depois que me perder, esquece, já vou estar longe demais pra me fazer voltar, além de que, claro, não farei questão de fazer isso. Então, não brinque comigo. Não me olhe nos olhos se não for pra me deixar ver tua alma por inteiro. Não pegue minha mão se não for pra entrelaçar seus dedos nos meus. Não abrace minha cintura se não for pra abraçar também o meu ser, fácil e grátis, prontinho a ser doado. Não aqueça meu coração se o seu estiver gelado. Não faça minha respiração ofegar se a sua estiver tranquilamente descarada. Não me ligue se só meu beijo é o que te faz falta, e não invada meus sonhos pra ocupar a minha mente com o seu rosto também à noite.
Porque se a indiferença vier estampada na tua cara, fingirei friamente senti-la também, embora machuque.
Mas quer saber de uma coisa? Eu não vou ligar se você disser que não vai mais voltar. E quer saber de mais uma coisa? É mentira.

domingo, 27 de março de 2011

Contrário

Tudo sempre acontece ao contrário comigo. Tem muita coisa que não quero, e o que quero, não tenho. Ainda bem né? Porque costumo querer o errado. É tendência a atração ao que, em primeira visão, é chocolate ao leite, mas em segunda, que nem é visão, porque não costumo enxergar, mesmo, é alho azedo. Então, que bom que eu tenha nascido com esse azar de não ter o que eu quero, acho que isso é sorte, afinal. Então tá tudo certo. Ou não. Porque vontade cutuca. E é persistente. E ai como me incomoda. Não sei se me sacio, ou se me abstenho. Mas nem era  isso exatamente que eu queria falar. Então deixa quieto.

terça-feira, 22 de março de 2011

Há um motivo


Só tenho que ter o cuidado, de que se você disser “Venha”, eu não saia correndo. De que eu me mantenha forte e consciente ao teu lado. De que eu controle meus instintos, que não conhecem o que são feridas, nem lembranças, nem saudades. De que eu me congele; não ouça, não sinta e não veja nenhum traço miserável de esperança, que já é morto sem ao menos existir, eu sei o que digo, acredite.
E por que ainda gastar os dedos, escrevendo uma história como essa? Nem foi história, na verdade, porque nem chegou perto de acontecer, exceto no interior de mim mesma, de mim mesma idiota.
Não sei para que serve a memória, se não pode ser usada para trazer alguns fatos ao presente. No meu caso, a sua função é cutucar meu bem-estar atual, injetando uma tal de nostalgia, inevitável, ao atingir corrente sanguínea, mas nem reclamo, o organismo acostuma com o tempo.
Então é só desperdício, de tempo, de energia e de dedos. Mas até que faz bem, desengarrafar os pensamentos, destrancar o coração. Então não há nada de errado com isso, há até um motivo. Já é o suficiente.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Montanha-Russa

Seria mais cômodo amar alguém mais fácil de ser amado. Seria mais confortável acordar sem nenhuma saudade no peito, ir dormir sem nenhum gosto de chocolate com avelã na boca, preparar chá de cidreira só pra um. A solidão seria menos dolorida, o pensamento teria outras ocupações, o coração bateria mais tranquilo. Mas é isso mesmo, sempre foi. O amor tem seus efeitos colaterais, e quanto a isso não podemos fazer nada.
Mas não abro mão, mesmo, da sua companhia em dias quentes, frios ou chatos; das suas manias, que nem mais questiono; do seu gosto por meias cano longo; da sua preferência por filmes de terror; das suas teimosias em relação a cores; do seu jeito engraçado de coçar as costas; do seu riso incontrolável depois de suas próprias piadas.
O seu viver é o que dá sabor ao meu sorvete de sábado, é o que me coloca em uma montanha-russa de emoções, é o que dá cor às paredes sem graça da minha vida.
Só você me faz sonhar, esperar, esquecer, lembrar, sorrir, chorar, detestar e amar, tudo junto, ao mesmo lindo tempo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Frio


Não me faça olhar pra trás, se não for me pedir pra voltar. Não me mande cartas, se não vier junto dentro do envelope. Não me ligue, se não for pra pedir pra esquecer tudo. Não bata na minha porta, se seu coração não bater por mim na mesma intensidade. Ignore nosso passado, a menos que ele queira invadir o seu presente. Esqueça nossas fotos, se não há porta-retratos suficientes. Devolva meus livros, se não tiver mais interesse nas suas palavras. Jogue fora o resto do meu perfume, se não te inspira mais bons sonhos. Me deixe sentir a dor gelada da solidão, a menos que a sinta também, aí teremos o calor um do outro, como antes, e o frio ficará lá fora, e somente lá fora.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Disfarce

Nem questiona minha mania de cantar oito vezes seguidas a música em inglês, acompanhando a letra até sabê-la de cor. Nove vezes já reclama, também não é pra menos, haja paciência pra me aguentar cantarolando desafinado. Controle na mão pra assistir meus passos, olha pra TV a cada cinco minutos, pra disfarçar que me olha, mas não consegue. Me viro de surpresa com a caneca verde na mão, e zombo da sua cara e das duas bochechas coradas. Você não é bom em disfarce. Me amolece com o sorriso envergonhado. Enterro o olhar em seus olhos e me perco em sua íris luminosa, é uma ida sem volta, e eu vou sem medo. Já conheço o caminho, e faço toda a questão de voltar sempre que posso, sempre que não me sinto pertencente a nenhum lugar. Por que meu lugar é em um certo abraço, de braços certos, não tenho dúvida.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Metade


Você não me encontra mais. Pelo menos não na minha casa, em um sábado à noite esperando algum sinal seu ou da campainha. Fácil era ficar aqui por umas três horas, fazendo companhia pra minha saudade acumulada no peito durante a semana toda, me fazer uma massagem e dizer que tem que ir, sem explicação alguma, afogando minhas perguntas com beijos melosos; e até achava bonito, mas agora não. Enjoei do seu amor de final de semana, com cronômetro ligado ao primeiro passo na escada. Cansei de ter, somente em três horas semanais, a presença de quem eu tenho presente na mente o dia todo, todos os dias, sem descanso em feriados, sábados, domingos e dias santos.  As suas promessas, tão falsas quanto adidas de cinquenta reais, e mais baratas que cd pirata no Paraguai, tem deixado um clima pesado na minha sala, acumulando poeiras de decepção na mesa de centro.
Se é pra ser, tem que ser por inteiro. Ninguém usa um sapato se o par não estiver completo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Não chame de amor...


Não pegue minha mão e não chame isso de amor. Se ontem quando o sol se escondeu você fez questão de virar a esquina com suas chaves balançando penduradas na calça. Se você me deixou sozinha no carro esperando durante longos e frios quarenta e sete minutos, enquanto tomava seu banho de três. Se não me olha mais nos olhos com a mesma ternura sabor chocolate de antes. Se morango com chantili não te faz lembrar as mesmas coisas que a mim faz. Se não sente saudade do meu beijo às duas da manhã quando ouve aquela certa música do Travis.
Isso não é amor, definitivamente. Mas você nem se importava com isso quando me invadiu com seu cheiro, sem pedir permissão ou licença. Porque amanhã bem cedo você já vai procurar um pão quente e um amor com aroma fresquinho, já vai ter ativado o estado “amnésia” e vai estar feliz, espelhado por um novo sorriso. E não fará questão nenhuma de ligar, nem pra pedir como estou, nem pra avisar que não volta. Uma hora dessas eu descubro, ou me dou em conta que seu amor era oco, e que a casca caiu.