"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Além do que sabe


O sono excessivo foi desculpa pra não ligar, e o compromisso inadiável foi desculpa pra não deixar você vir me ver. Não é que não quero sua companhia, ou é. Mas é que agora, mesmo sem você saber, muita coisa se passou, além do que você já sabe. Não falamos sobre “nós” desde o primeiro sábado da primavera, que já se foi faz tempo, e nessas quantas semanas feitas de mais segundas do que o normal, seus passos, que já não seguem o caminho da minha casa, foram guias da minha solidão. Todos os seus gestos continuaram por me afetar, e você não sabe o quanto lembranças podem pesar e cavar buracos.
Que o susto foi maior que a possibilidade de manter minhas feições tranquilas, ao cruzar com você dividindo meu doce preferido com uma baixinha com cara de cão-que-caiu-da-mudança, você já sabe, e a alpinista de meio-fio também, porque isso ficou mais na cara do que o interesse dos Estados Unidos no petróleo do Iraque.
Se isso é tão óbvio, por que me procura? Se me vê passando rápido, fingindo pressa pra não olhar pros lados, se sente minha respiração ofegar, o coração bater cansado e triste quando me olha nos olhos, se minha pele arrepia quando se sente próxima ao calor da sua, e as palavras perderem o rumo e o tom quando se dirigem aos seus ouvidos... Se ao menos viesse pra ficar...
 E isso está além do que você sabe, ou sente, ou vê. Mas é o que pesa e machuca no meu peito, desconhecido, o além.

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