"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Divina Comédia


Ao invés de ficar falando sobre como está quente ultimamente, e do quanto a cor do sofá não combina com a cor da parede, porque não fala de nós? Ou de você? Ou de qualquer coisa mais relevante do que seu time de futebol? Parece tão difícil assim?
Cansei que tentar preencher o silêncio toda hora, relatando meu dia e até repetindo as mesmas histórias. É aquela sensação de que você vive sozinho, mas com alguém do seu lado, sabe? Chega a ser triste, não saber o que se passa na mente da outra pessoa, se ela quer o mesmo que você, se ela vive o sentimento na mesma intensidade que você.
Até abre a boca, em intervalos quase programados, mas não pronuncia palavras com significativa importância, não deixando, portanto de ser silêncio. Um silêncio até mais incômodo que o de sempre.
Então permanecemos “calados”, e nos perdemos no cenário da sala quase vazia. Um abajur estampado, uma tevê, um rádio velho, você e eu. Elementos inanimados de uma peça em que o silêncio protagoniza todas as cenas. Não há nem variação de começo, meio ou fim, o enredo é imutável. E nem sabemos se estamos próximos, ou não, do último ato.

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