"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

sábado, 23 de abril de 2011

Ele não se importou em esperar,

...pelo menos acho que não. É que jurava que fosse mais cedo, mas me assustei com a pressa do relógio. Fiquei um pouco envergonhada com a bagunça da minha casa, porque tive que deixá-lo lá, esperando, entre copos sujos e DVDs espalhados pela sala. Espero que não tenha se importado com isso também. “Para de roer essa unha!”, foi o que disse quando saí do quarto. Ele até se assustou, parecia meio distante. “Estamos atrasados”, ele disse sem muito entusiasmo na voz. Espiei pra ver se ainda havia unhas em seus dedos, ele até achou engraçado. “Estou pronta”, disse, no mesmo tom sem graça. Descemos as escadas, escuras, há mais de uma semana com a lâmpada queimada. Entramos no carro, mas não estávamos com a mínima vontade de sair dali, mesmo que não havíamos dito isso ao outro. Chovia, e pensávamos os dois na mesma coisa. Ele abriu a boca pra pedir se eu tinha certeza que queria ir, suspirei de alívio em pensamento e não me demorei em dizer que não, que preferia não ir. Ele esperava que eu o convidasse pra entrar, e eu esperava que ele aceitasse. Ainda bem que aceitou. Concordamos no fim que tinha sido bem melhor assim. Que a companhia de copos sujos e DVDs pelo chão era bem melhor que a companhia de rostos desconhecidos, vozes irritantes alteradas pelo álcool e cheiro de cigarro. Que era mais confortável e quente o abraço do outro do que uma cadeira gelada, em um bar gelado, com bebidas geladas, e chegamos a nos perguntar por que casais costumam fazer isso. Então, nada melhor e confortável que um amor e uma sala bagunçada.

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