"Um dia o peito desenferruja e a gente abre mão do que há de vir" (Gabito Nunes)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Conciliação Impossível


Tem uma coisa que me intriga. Deve ser algum dos meus singelos problemas. Defeito nos neurônios motores. Ou é interferência, sinal fraco. Ou meu arco-reflexo consciente só frequentou até a quarta série fraca. Sério, é que ele não age de acordo comigo, tá sempre de birra. Teimoso. Ou, bem... Pode ser aquela velha e empoeirada história, que deve ter surgido antes mesmo de Cristo, sobre razão e emoção. As minhas, razão e emoção, não são nenhum pouco íntimas, não sei por que.
O coração é inconsequente (quem diz isso é a razão), que só quer felicidades instantâneas, não se importa com o resto, nem com o amanhã, aliás, ele sabe o que é isso?
A razão é muito calculista (estava demorando pro querido coração se manifestar...), que não faz coisas por medo e insegurança, e sua filosofia de vida é: Pense duas vezes antes de agir. Que coisa idiota, espera pra ser feliz outra hora, e nem sabe se haverá outra hora.
Eu, perdida, já perdi, além de mim, a esperança de alguma conciliação entre esses dois opostos. E viver com os dois, nem sei se sei. Vai ver é como eu fiz até hoje.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Par


Quem já não fechou os olhos por algum segundo em meio à cidade caótica com o desejo de encontrar o abraço mais seguro e quente do mundo? Quem não ouviu alguma certa música, repetidas vezes, que não o fez lacrimejar mais de dezessete vezes no dia? Quem nunca acordou com os pulmões enguiçados, com algumas pedras pesando no peito, reclamando de um pesadelo que teve, mas que pareceu tão real? Quem nunca saiu em um dia nublado, querendo buscar o sol em alguém e torceu para que o escuro da noite demorasse a chegar? Quem nunca se sentiu sozinho, na companhia de muitos? Quem já não contou estrelas em pares? E por que exatamente em pares? Talvez porque a palavra “par” soa bem.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Espaços Vazios


Levou tempo pra compreender, pra perceber. Faz pouco que notei como o seu havaianas fica bem ao lado do meu.  Foi ontem que senti uma agonia gostosa quando te perdi de vista ao virar a esquina. Foi quando me telefonou, às duas da manhã, que percebi o quanto a sua voz pode me manter acordada. Foi pela manhã que a minha pele sentiu falta da tua. E antes disso, eu nunca havia achado meu apartamento tão quieto e com espaços vazios demais. Quarto sobrando, tapete sobrando, sofá sobrando, xícara sobrando... E se você, por acaso, perceber o quanto se encaixa nisso tudo, e notar como nossos havaianas ficam bem lado a lado, eu te espero, pra vir completar os espaços vazios de mim mesma e do meu apartamento.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pra você voltar...

Agora eu decidi. Vou te chamar pra um café e te trazer de volta a mim. Te fazer lembrar do nosso amor adormecido. Colocar pra tocar uma de alguma banda gaúcha, só pra não perder o costume. Te trancar no meu quarto e perder a chave. Recontar e reler nossas cartas e bilhetinhos de geladeira, com um “eu te amo’’ ou com um ‘‘lembrar de comprar leite’’. Dizer no teu ouvido que sentia sua falta, que o sofá tinha ficado grande demais e a que porta não fechara depois que havia saído por ela. Matar a sede da tua pele e do teu ombro cheiroso. Ouvir tua voz rouca me pedindo pra usar chinelos, tudo bem, eu sei que o piso está frio. E te abraçar o corpo inteiro, e parar o relógio, e fazer o tempo não passar mais, nunca mais.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Meia Galáxia


Tem vezes que a ferida é tanta, que o coração não sara mais. O que mais me dói não é a sua indiferença, seu olhar arrogante, e sua impossibilidade crônica de abrir a boca pra dizer ‘perdão’. O que mais me dói são as palavras pontiagudas que são proferidas com o simples e único objetivo de ferir, atingir. Mas tudo bem, eu acho. Nossos laços não podem, nem nunca serão desfeitos, talvez por isso eu sinta o peso de meia galáxia nas costas. Só queria me livrar da pilha de arranhões que meu coração carrega.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ponto Final


Estamos como uma folha usada. Escrita a caneta, rabiscada e amassada. Nela, escrevemos toda nossa história em letra de forma, sublinhando carinhos, abraços e pores-do-sol. Uma crônica longa e deliciosa, que lembra aroma de café. Não que não tivemos trechos sabor meio amargo, mas podemos chamá-la romance. Não poucas vezes entramos em acordo para substituir um ponto final por uma vírgula. Não poucas vezes usamos as palavras “esperança” e “última chance” no nosso enredo, e não poucas vezes escrevemos sobre medo e solidão, criando nossos próprios conceitos de saudade e dor.
Mas a folha já usada, rabiscada e amassada, andou ficando pela estante da sala. Esquecida entre o som e a agenda velha. E sabemos, claro que sabemos, que já chegamos às últimas linhas. Não há mais vírgulas, nem reticências. É hora do nosso final, mas sério, não feliz, final.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Corda Bamba


Custava ligar? Ou mandar recado por pombo correio? Sei lá, qualquer coisa. Não... Não é que não estou feliz em te ver. Até estou, e esse é o problema.
É que agora já estava tudo no lugar, o quarto de visitas, as duas canecas laranja no guarda-louça, as nossas lembranças... Eu já conseguia pensar em você menos de três horas num mesmo dia. E a vontade de você já tinha até adormecido. Mas aí você chega falando alto, e eu nem preciso dizer que a minha vontade tem sono leve...
Só queria um tempo pra me preparar, pra treinar meu coração a controlar os seus impulsos... Já me considerava curada do seu vício, e você vem pra se entregar de novo, não cobra nada, vem pra me tentar.
Me quer na corda bamba, eu vou, balançando, quase que caio, e quando caio, me perco.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Espelho do Banheiro

Revista velha, super interessante, mas sem capa. Já lida trinta vezes, e refolhada todos os dias antes de sair. Bem a sua cara. Abre a janela verde do teu quarto e o sol dá o ar da graça. Pra comer, nem pão amanhecido. Mais um item na lista de compras. Cheirinho doce na nuca, combinando com o aroma suave da camisa limpa. Segura o tempo como pode. Diz que adora as manhãs e eu digo que te adoro. Promete voltar logo e eu prometo estar esperando. O sol se inclina conforme minha saudade, mas os ponteiros teimam em se amolar. Abre a porta e um sorriso às sete. Flores pro jantar. Luz do abajur no corredor. Minhas mãos na tua pele. Suor no teu cabelo. ‘Certeza’ escrita a dedo no espelho do banheiro, com o vapor do chuveiro... E aí me tem fácil. Me solta e me pega, me larga e segura, me acalma e agita...

Meio Termo

Se tem medo, me fala. Se tá cansado da minha voz, não hesite em sair. Se meu beijo doce já alterou teu diabetes, procure outro que seja sem açúcar. Se teu coração não pulsa mais rápido quando chego, então não me peça pra voltar. Só não fique mudo quando digo que te amo. Só não responda que é cansaço quando eu perguntar qual é o problema. Só não fixe o olhar no chão quando eu conversar contigo. Não entendo o meio termo. Tem que ser com ou sem, quente ou frio, perto ou longe. O não saber é cruel demais pra mim.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Cansado Coração


É quando os ombros não aguentam mais que o coração acha que manda. É quando estamos cansados que nos distraímos. É quando nos sentimos feridos que procuramos abrigo. Qualquer abrigo, qualquer abraço, qualquer mão que nos carregue, qualquer olhar que julgamos sincero. É porque nos sentimos perdidos, sem saber o caminho de casa, sem nem ter a certeza se temos casa. É não saber se teremos companhia em dias de inverno, se teremos alguém pra discutir gosto musical, se teremos alguém pra dividir uma torta de maçã. E caímos fácil, nos decepcionamos de novo, porque corremos pra qualquer teto que nos proteja, sem saber se ele é firme. Perdemos o encanto, o coração congela.
E esperamos, acreditamos no próximo dia de sol. Sem muito entusiasmo, mas esperando que o calor que vem depois das dez, seja suficiente para aquecer e renovar o cansado coração, que não sabe nem local, nem data do próximo tombo, então já torce para que o verão seja longo.